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DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL - HÉRNIA DE DISCO

O que é o disco intervertebral (DIV) e qual a sua função na nossa coluna e de nossos pets?

O disco intervertebral é um amortecedor que temos entre as vértebras que compõem a coluna, em outras palavras ele atua como um coxim hidráulico (almofada de água) que permite a flexibilidade necessária para os movimentos da coluna no dia a dia e ao mesmo tempo é uma estrutura de sustentação atuando na absorção de impactos.  

Anatomicamente o DIV é dividido em 3 estruturas: O núcleo Pulposo (NP), o Ânulo Fibroso (AF) e as placas cartilaginosas terminais (PCT). Em um DIV saudável o NP, porção mais interna, é composta por aproximadamente 80% de água, os outros 20% por proteínas (proteoglicanas).

Como ocorre uma hérnia de disco e quais tipos existem?

Tudo começa com a degeneração do núcleo pulposo, ou seja, ele vai perdendo a capacidade de absorver e manter água, comprometendo sua função de coxim hidráulico da coluna. Com isso as cargas exercidas na coluna que antes eram bem suportadas e distribuídas pelo DIV, são transmitidas em excesso para o anel fibroso, que não foi projetado para isso e como resultado ele pode se deslocar por meio de um abaulamento (protrusão de disco) ou se romper despejando o material do núcleo pulposo (extrusão de disco).

Além da protrusão e extrusão o último consenso publicado em 2020 (Fenn; Olby, 2020 – 10.3389/fvets.2020.579025) descreveu mais 5 tipos de hérnias de disco: Extrusão com hemorragia; extrusão com NP hidratado; extrusão não compressiva; extrusão traumática e extrusão intradural. Todas são subtipos da extrusão, porém com fisiopatogenia e tratamentos distintos em muitos casos.

Quais os pets mais acometidos e quais os sinais clínicos observados? Essa doença é a doença da coluna vertebral mais comum em cães, porém extremamente rara nos gatos, para se ter ideia tem trabalho que mostra que a incidência é de apenas 0,2 a 4% dos gatos com lesão medular (DeDecker et al, 2016). Os pacientes podem apresentar dores nas costas, dificuldade de locomoção como arrastar as unhas, cruzar as pernas e fraqueza. Alguns podem perder de forma repentina os movimentos dos membros. Os pacientes que têm extrusão do disco geralmente são paciente mais jovens com idade entre 3 e 6 anos e apresentam sinais de forma aguda, ou seja, eles estão normais e depois de uma brincadeira como pegar a bolinha, saltar do sofá, pular da escada ou fazer uma caminhada mais intensa apresentam uma crise de dor ou perdem os movimentos. Na verdade, não foi o ato em si que causou o problema, isso foi a “gota d’agua que extravasou um copo cheio”, pois o processo degenerativo do DIV se iniciou muito tempo antes.  É muito importante dizer que com exceção do bulldog francês que pode ter uma extrusão entre 1 e 2 anos de idade, todos os outros cães vão apresentar essa doença a partir de 2 anos de idade. Os processos degenerativos do disco se iniciam quando bem jovens em pacientes pré-dispostos como por exemplo o Lhasa Apso, Shitzu, Pequinês, Poodle, Bulldog francês, Teckel, Beagle, entre outros. Devemos lembrar que essa doença não é exclusiva dessas raças, podendo ser observada em quase todos os cães.

Já os pacientes que apresentam a protrusão do disco intervertebral têm sinais clínicos mais crônicos que se iniciaram meses antes e não é comum o animal perder os movimentos dos membros com esse tipo de hérnia de disco. Os cães aqui apresentam dores, dificuldade de se levantar, incoordenação na locomoção com piora progressiva do quadro. Geralmente são mais velhos com idade a partir dos 5 anos, de médio a grande porte.

Vale ressaltar que cães de grande porte podem ter extrusões assim como cães de pequeno porte podem ter protrusões, o que se da ênfase aqui é na frequência em que aparece a doença em cada grupo. Outras doenças podem estar associadas a protrusão como a síndrome de wobbler e a estenose lombossacra degenerativa.

Como se realiza o diagnóstico da hérnia de disco?

Primeiramente o paciente deve passar por uma avaliação com o médico veterinário especializado. Após o exame clínico, quando se tem uma suspeita forte, o profissional vai identificar onde é o problema, se ele está na coluna cervical, torácica ou lombar e solicitar exames de imagem para confirmar o diagnóstico. O exame radiográfico (RX) é um exame de triagem, onde se avalia a conformação da coluna e se descarta algumas doenças vertebrais mais óbvias, no entanto, ele é insuficiente para o diagnóstico preciso da hérnia de disco.

As modalidades mais utilizadas atualmente são a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM). A tomografia por se tratar de um exame mais rápido e de menor custo em relação a RM, além de ser mais disponível no mercado para se realizar em caráter de urgência acaba sendo em grande parte dos pacientes a primeira escolha, principalmente em cães condrodistróficos, ou seja, predispostos a extrusões onde o conteúdo geralmente é calcificado. Contudo a TC simples não é suficiente em aproximadamente 20% dos pacientes, que podem necessitar de injeção de contraste dentro do sistema nervoso (MIELOTOMOGRAFIA).

A ressonância magnética é uma modalidade que chega a 100% de precisão no diagnóstico dessa doença, permite a avaliação do parênquima medular, graduar o grau de degeneração do DIV, não expõe o paciente a radiação e não necessita contraste. Os contrapontos são: custo mais alto, maior tempo de anestesia e escassez de aparelhos no mercado, principalmente quando se necessita em caráter de urgência. Vale ressaltar que não existe uma regra e o médico veterinário com seu conhecimento no momento saberá direcionar o exame mais adequado para cada paciente, sabendo que alguns irão precisar fazer os dois exames.

Como é realizado o tratamento?

Existem basicamente duas maneiras de se abordar essa doença, o tratamento clínico e o tratamento cirúrgico e quem decide qual é o mais adequado é o médico veterinário com base em critérios estabelecidos na literatura científica para a terapia desses pacientes.

Animais que conseguem se locomover de maneira voluntária e sendo a primeira crise, é possível realizar o tratamento clínico que consiste no repouso absoluto, preferencialmente em gaiola, por 4 a 6 semanas, podendo sair 3 vezes ao dia de 15 minutos para realizar as necessidades fisiológicas. Associado a isso pode-se utilizar anti-inflamatórios, analgésicos, relaxantes musculares e até mesmo fisioterapia e acupuntura.

Pacientes com crises recorrentes de dor ou irresponsivos ao tratamento clínico podem se tornar candidatos a cirurgia. Quando o cão perde o movimento dos membros, se torna uma emergência cirúrgica devendo ser encaminhado ao centro cirúrgico o mais rápido possível, pois isso pode influenciar na chance de ele recuperar o movimento dos membros. A cirurgia consiste na remoção da hérnia de dentro do canal vertebral e vários procedimentos cirúrgicos foram desenvolvidos com esse objetivo.

Prognóstico dos pacientes.           

O principal medidor de prognóstico é a presença de sensibilidade nos membros, chamado de dor profunda. Os pacientes que não andam, mas sentem os membros tem por volta de 93% de chance de voltar a andar com a cirurgia, já o que não apresentam sensibilidade essa porcentagem cai para entorno de 50-60% após o tratamento cirúrgico. Sempre bom lembrar que as taxas de recuperação sem a cirurgia caem drasticamente.

O pós-cirúrgico não é um grande desafio para os tutores, pois trata-se apenas da realização diária de um curativo por volta de 14 dias, até a remoção dos pontos. A fisioterapia pode ser iniciada assim que liberada pelo cirurgião já nos primeiros dias e ajuda no processo de recuperação dos movimentos. Os pacientes que não conseguem urinar sozinhos devem tem auxílio de massagem abdominal para o esvaziamento da bexiga pelo menos três vezes ao dia para evitar o desenvolvimento de infecção urinária.

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